UM MARCO ZERO FRACASSADO - A PASSAGEM DA TERRA AO MAR EM OSWALD DE ANDRADE
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O pensamento antropofágico atravessa, então, uma interessante transformação: passa a ser casaca de ferro da revolução proletária. Independentemente da veemente rejeição dos “companheiros” de partido, o marxismo impôs importantes questões a serem trabalhadas pela Antropofagia. Se antes podemos defini-la como um sistema dual mas não dicotômico, o contato com o marxismo impõe a Oswald o desafio de adequar seu pensamento às bases de um conflito de dois polos inconciliáveis, bem ao gosto da luta de classes. Neste sentido, o Homem do Povo, jornal experimental de apenas 17 dias criado em conjunto com Pagu; bem como o Marco Zero – uma tentativa de romance mural inspirado no muralismo mexicano – são profundamente emblemáticos: além de uma espécie de rebelião contra a segunda dentição da revista antropofágica, também a fase mais diretamente engajada de Oswald. Por isso mesmo, uma pedra no sapato dos críticos (não apenas de Antônio Cândido). A interpretação padrão deste romance encontra guarida no clichê que opõe o campo e a cidade. Não há dúvidas que esta chave é de considerável intensidade no contexto atual, em que as forças do interior e, portanto, da terra, como o índio, enfrentam o poder do latifúndio e do capital. Busca-se, aqui, no entanto, seguir os passos de Oswald, e analisar o Marco Zero como um último esforço, fracassado, de conciliar antropofagia e marxismo. Neste sentido, lá onde Oswald de Andrade falha é que prestaremos mais atenção: o quinto volume de Marco Zero estaria dedicado à “presença do mar”, no caso, ao imperialismo. Defenderemos, então, que é a oposição dicotômica entre Terra e Mar que o leva a abandonar o projeto ambicioso do Marco Zero e impulsiona Oswald a arriscar-se no caminho da antropofagia filosófica, cujo corolário está na formulação do matriarcado de “Crise da filosofia messiânica”. 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