O nosso objetivo é analisar a novela “Satânia”, de Judith Teixeira, a partir dos conflitos vividos pela protagonista, Maria Margarida, sendo estes reveladores de algumas problemáticas femininas (antecipando até algumas características feministas da década de 60) vividas em Portugal no começo do século XX. O conflito operado pela proibição e a intensa luta interior de Maria Margarida no domínio dos seus mais recônditos desejos pelo filho do caseiro de sua quinta, Manuel, desperta nela uma vertigem associada à dicotomia entre a primitiva natureza humana sexual e a sublimação moral e social, que condena o desejo sexual feminino bem como a satisfação do mesmo, e fomenta o conflito entre um corpo com pulsões naturais e um estado mental de grande autocontrole. Apoiar-nos-emos em autores que refletem sobre o erotismo como, por exemplo, Francesco Alberoni, George Baitalle e Sebastián Romero-Buj, para analisar como a construção tanto do cenário como das personagens secundárias se coaduna com as condicionantes trazidas à luz pela personagem Maria Margarida, criando uma ambiência “desassossegada”, que a perturba e a faz pensar sobre as suas atitudes de mulher, culta e burguesa, diante das suas pulsões sexuais.