Citado brevemente nos compêndios de história literária, o pioneiro editor Francisco de Paula Brito (1809-1861) é a personagem principal desse artigo. Trata-se de deslocar o secundário ao plano principal, ou seja, de alçar o fundo à figura, para se observar literatura e história com base em uma perspectiva que considera suas condições materiais de produção e circulação. Partimos da premissa de que a instalação tardia de uma sistema comunicativo baseado na imprensa no início do século XIX teve consequências para as definições dos contornos do literário no Brasil. Foi esse “atraso” o que condensou simultaneamente três diferentes aspectos da atividade de edição – o capital, a autonomia intelectual e a voz – na figura de Paula Brito. Não buscamos isolar cada um dos aspectos que caracterizam o editor, mas demonstrar que foi seu entrelaçamento, por vezes contingencial, o que promoveu a presença da escrita e da literatura no cotidiano da corte. É importante destacar que, além da superposição das figurações do editor, Paula Brito transitava livremente por todas as funções do mundo letrado, e foi seu caráter múltiplo e ambíguo o que nos permite traçar relações entre atividades e conceitos aparentemente distantes como o tipógrafo e o autor, o manual e o intelectual, o corpo e o significado.