A música sempre esteve presente na linguagem dramática, desde as suas origens. Por se desenvolver no tempo, a música é o elemento dialógico por excelência do texto teatral. Dialoga com os movimentos do ator explicitando seu estado interior, contracena com a luz e com o espaço, em todos os seus aspectos. Quando acrescentada aos outros sistemas sígnicos de uma peça, o papel da música é o de enfatizar, ampliar, de desenvolver e até de desmentir ou substituir os signos dessas outras linguagens que dialogam com a linguagem teatral. No Renascimento, com a secularização da linguagem musical, a função da música nas encenações não ficou restrita apenas à necessidade de ressaltar ou de enfatizar a ação dramática. No teatro elisabetano a música passou a ser parte orgânica da encenação, principalmente pelo fato da música ser uma das linguagens mais apreciadas e desenvolvidas durante aquela época história. Esse fato não passou despercebido aos dramaturgos da época que passaram a formalizar nas indicações cenográficas dos seus textos a importância que se fazia da presença de um determinado instrumento musical, antecedendo cenas em que, a música produzida por aquele instrumento iria gerar um determinado significado. O dramaturgo inglês William Shakespeare é exemplo de quem explorou com maestria a potencialidade signica da linguagem musical em muitas de suas peças. Este artigo, portanto, pretende investigar a linguagem musical através de recortes do texto dramático shakesperiano evidenciando a semiose gerada por este signo dentro do panorama cultural renascentista. O suporte teórico será fornecido por KOWZAN (1988), RAYNOR, 1981, KIEFER, 1981 e PAVIS (1999).