Sabendo que muitos dos eventos bélicos da modernidade surgiram em função de disputas entre Estados-nações, não é surpresa que grande parte dos discursos histórico e literário produzidos desde então tenha se preocupado em interpretar os conflitos sob a ótica da nacionalidade. Não foi diferente com a Guerra do Paraguai (1864-1870). Várias são as obras historiográficas e literárias que revisitam o episódio, a partir de uma perspectiva nacionalista. No entanto, nas últimas décadas, quando se observa o aparecimento de abordagens que questionam o traçado das fronteiras nacionais, sugerindo uma configuração de novos contornos – pelo menos, no que diz respeito aos países do sul do continente americano -, a partir da eleição de outros aspectos de identificação e representação dos povos que habitam este território, manifestam-se releituras da referida campanha sob outros ângulos. No plano da literatura, alguns projetos assumem o viés de afirmação de uma suposta latino-americanidade – ou apenas uma identificação ameríndia - entre as nações envolvidas na Guerra do Paraguai, o que não significa a negação das formas de representação dos referenciais identitários de cada um desses países, mas, em certa medida, o enfraquecimento destas. Neste painel, há lugar ainda para obras nas quais o procedimento de deslocamento que abala a força do projeto identitário da nacionalidade é implementado pelo enfoque de minorias marginalidades pela historiografia acerca da guerra. Dessa maneira, o trabalho tem como objetivo apontar, nas narrativas de ficção O livro da Guerra Grande (NEPOMUCENO et. al., 2002), Cunhataí (LEPECKI, 2003) e O rastro do jaguar (CARVALHO, 2009), indícios de como o tema da guerra é acionado por intermédio da criação de um cenário heterogêneo e complexo de modos de representação, enunciação e negociação de identificações de fontes diversas (de nação, étnicas, gênero). Para tanto, o texto apoia-se em reflexões de Homi Bhabha (1998), Hall (2000; 2003), Zilá Bernd (2002), entre outros.