Artigo Anais ABRALIC Internacional

ANAIS de Evento

ISSN: 2317-157X

INTELECTUAIS EM CRISE: UMA REFLEXÃO SOBRE A REPRESENTAÇÃO DO INTELECTUAL EM UM QUARTO DE LÉGUA EM QUADRO, DE LUIZ ANTÔNIO DE ASSIS BRASIL

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Publicado em 12 de julho de 2013

Resumo

O trabalho terá como objetivo discutir a representação do intelectual na obra Um quarto de légua em quadro, de Luiz Antônio Assis Brasil. Para tanto, após traçarmos as diretrizes essenciais dos Estudos Culturais e suas implicações, nos deteremos nos conceitos de classe, identidade, poder e ideologia, articulando-os com a figura do intelectual da obra supracitada. A abordagem dessa discussão teórica se torna relevante na medida em que segue o debate contemporâneo sobre a função do intelectual numa sociedade que, cada vez mais, o prescinde (MARGATO e GOMES, 2004; SAID, 2005; SARLO, 2006; WALTY e CURY, 2008). À esteira desses pesquisadores, procuraremos definir como a obra de Assis Brasil discute artisticamente a função do intelectual, sua inserção dentro do projeto iluminista da modernidade e as mudanças político-culturais que alteraram sua atuação e importância na contemporaneidade. Dessa forma, nos alinharemos com a perspectiva dos Estudos Culturais (DURING, 1999; KELLER, 2001; BHABHA, 2003; HALL, 2003; JOHNSON, 2004), ressaltando a postura política da cultura, que articula simbolicamente os valores e ideologias sociais. A teoria culturalista mostrar-se-á relevante para o estabelecimento da insuficiência da noção de classe como paradigma identitário no cenário contemporâneo. A obra Um quarto de légua em quadro, de Assis Brasil, por esse prisma, adquire nova significação. O romance, publicado em 1976, é narrado em primeira pessoa pelo médico e intelectual Gaspar de Fróis. Contudo, para além de uma ficcionalização dos acontecimentos históricos, temos, em Um quarto de légua em quadro, uma profunda reflexão de Assis Brasil sobre as limitações do intelectual moderno, produzidas em um contexto mundial de descrenças nos discursos totalitários de redenção social, de globalização crescente e de liquefação identitária das classes sociais. É nessa perspectiva, de desencanto, que o diário de Gaspar de Fróis é elaborado, imiscuindo-se em seu discurso a crítica do intelectual Assis Brasil sobre a prática de sua categoria, de temporalidade e contexto outros. Situado entre dois grupos sociais, a elite e o campesinato marginalizado recém-formados no processo de assentamento, Gaspar de Fróis atua na cena pública como um mediador deslocado de qualquer pertencimento social. Ora filia-se ao campesinato marginalizado das decisões políticas, sendo seu porta-voz, ora reafirma seu privilégio social fundado pelo conhecimento, tendo atitudes e preocupações típicas do intelectual moderno. Ao final da obra, entretanto, a hipótese de sua loucura vem corroborar com a falência dessa concepção de intelectual no cenário da modernidade tardia. Essa posição, sustentada pela condição fronteiriça do intelectual, alinhar-se-á com o tratamento culturalista sobre o critério de classe, entendido um fator dentro dos variáveis elementos formadores da identidade. Por fim, o questionamento sobre a pertinência do intelectual moderno em Um quarto de légua em quadro levar-nos-á a um debate sobre os conceitos de poder e ideologia sob o prisma dos Estudos Culturais, articulando-os como representações que permeiam as funções sociais. Nessa perspectiva, a denúncia da fragilidade do papel do intelectual na obra de Assis Brasil justificar-se-á perante às transformações contemporâneas que desafiam essa classe a repensar sua inserção social.

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