Maria Helissa de Medeirosi (UFRN)Derivaldo dos Santosii (UFRN/PPgEL) Este trabalho parte do pressuposto de que o romance Cartilha do silêncio, de Francisco Dantas, constitui-se de um duplo movimento, mas sempre articulado um ao outro. Um voltado para a experiência moderna com a ideia de que a modernidade está impregnada de contrários, como nos lembra Nietzsche; outro vinculado a modos de vida baseados na experiência tradicional, mais espontânea e com aspectos (neo)regionais. Interessa-nos, pois, analisar questões voltadas para o campo crítico-social que permeiam a vida e a história das personagens do romance, no que se refere à evocação do passado como instância de permanência da tradição em relação ao que apresenta como elementos constituintes da vida social moderna, o que dá à narrativa seu caráter paradoxal. Para subsidiar nossa análise, teremos como principal fundamentação teórica as reflexões de Marshall Berman constantes no livro Tudo que é sólido desmancha no ar e na obra Os cinco paradoxos da modernidade, de Antoine Compagnon. A fim de discutir acerca dos aspectos modernos da narrativa em estudo, a pesquisa apoia-se ainda no estudo de Karl Erik Schollhammer acerca do (neo)regionalismo, em Ficção brasileira contemporânea e no referencial teórico sistematizado por Rosenfeld, em seu ensaio Reflexões sobre o romance moderno. Como a perspectiva adotada em nossa investigação articula texto e contexto, o literário e a vida social, verificamos como Cartilha do silêncio nos dar a ver questões de ordem estética conjugadas à vida social. Nesse sentido, o trabalho analisa como a identidade das personagens se constrói durante a narrativa e se mantém resistente à acomodação no seu contexto social na transição da tradição patriarcal para a modernidade, criando uma atmosfera de tensão entre os dois registros. Palavras-chave: tradição, modernidade, (neo)regionalismo.