DAS PAISAGENS LITERÁRIAS NA INVENÇÃO DE ORFEU, DE JORGE DE LIMA. CONSIDERAÇÃO A PARTIR DOS DESASTRES
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O elemento que permite tal leitura é precisamente a consideração dos restos produzidos por cada tentativa de o homem construir um mundo seu, um mundo próprio. Há nessas formulações a proposta de uma elaboração da experiência moderna que vem juntamente com o caráter inquietante – i.e., que promove a emergência e o retorno do recalcado - inscrito na ação humana. Assim, se em uma das passagens do poema se diz que "nem tudo é épico e oitava-rima / pois muita coisa desabada / tem seu sorriso cotidiano" (V, 2), não é fortuito que em outros momentos do percurso o "barão, / de manchas condecorado" (I, 1) se depare com o assombro dos ameríndios extintos no mau encontro da dominação por Um (cf. Pierre Clastres). Nesse sentido, a Invenção de Orfeu perfaz seu relato também através das vozes fantasmáticas que pervivem, enquanto luminescências obscurecidas, nos subsolos das paisagens brasílicas. Esse é, então, um dos momentos em que a possibilidade de extinção – bastante contemporânea, se lembramos da espantosa cotidianidade do desastre – apresenta um espaço de confluência entre o já morto e o ainda vivo. Espaço esse que, no tempo de agora, permanece aberto à consideração tanto do desdobramento da biopolítica em tanatopolítica – em que a conformação política do homem se estabelece pela exclusão da vida e pela formulação de uma comunidade de espectros (cf. Fabián Ludueña). Nesse sentido, o savoir-faire pautado pelas montagens e encontros aparentemente disparatados da Invenção de Orfeu instiga e convulsiona um processo de imaginação incidente tanto sobre os corpos viventes quanto sobre as demandas de sentido insistentemente irrespondidas." 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