Juan Rulfo ocupa um lugar de destaque entre os autores mexicanos. Pedro Páramo, seu único romance, é tido como um dos mais aclamados de toda a literatura mexicana e costuma figurar entre os clássicos latino-americanos. Lançado no início da segunda metade do séc. XX, além de fazer parte do contexto de renovação da prosa latino-americana, o romance apresenta algumas das características e tendências que seriam futuramente difundidas no realismo mágico. Mas além de estar na vanguarda desse movimento, Pedro Páramo possui uma peculiar estrutura permeada por narrativas fragmentadas e labirínticas, nas quais os limites entre vida e morte foram completamente rompidos, assim como as noções de tempo. Ao romper esses limites, Juan Rulfo desvincula o espaço de sua dimensão empírica, que passa a assumir padrões alternativos e que se afastam das configurações regulares que costumam representá-lo. Esse novo modelo descritivo que surge no início do século XX subverte e desconstrói padrões realistas de narração, passando cada vez mais a exigir participação ativa do leitor. Apesar de existirem publicações relevantes sobre o espaço na obra de Rulfo, os estudos relacionados diretamente ao espaço em sua obra praticamente inexistem no Brasil. Com base nas reflexões sobre topoanálise de Borges Filho (2007) e nas ponderações de Brandão (2007) sobre espaço e focalização propomos-nos, com esse artigo, investigar como alguns dos narradores se relacionam às distintas configurações espaciais e quais efeitos de sentido tais espaços são capazes de produzir.