OS (DES)CAMINHOS DO AMOR: HISTÓRIA E TRADIÇÃO NA LITERATURA DE CORDEL Em todos os tempos, em todos os espaços, as relações amorosas obedecem a rituais próprios que transformam, estigmatizam e identificam os seus participantes. Enganam-se aqueles que concebem o amor apenas como uma emoção simples e corriqueira. Em termos discursivos, esse pathos envolve delineamentos sociais, políticos, culturais e, por conseguinte, ideológicos. Na história da humanidade, as paixões sancionam os amantes, dilaceram os algozes e dão a redenção aos enfermos, destituindo-lhes poderes e/ou ofertando-lhes sortilégios. Nesse âmbito, pretendemos analisar, em textos da literatura popular, a configuração psicoideológica do amor, a fim de compreendermos como um sentimento, envolvido culturalmente pelo signo da positividade, mantém laços estreitos com a dor, o sofrimento e o horror. Resulta dessa corrupção afetiva e conflitante um processo de negação identitária, onde a subjetividade é dilacerada, subjugada, travestida e demolida. O corpus constou do folheto de cordel O amor cangaceiro de Lampião e Maria Bonita, compilado pelo cordelista paraibano Vicente Campos Filho. Recorremos aos constructos operacionais e epistemológicos da semiótica greimasiana, especialmente os estudos desenvolvidos por Greimas (1975), BATISTA (2008) e RODRIGUES (2012). Examinamos a organização dos percursos de cada sujeito semiótico em busca de seu objeto de valor, buscando identificar as modalidades que os instauram, visto que na medida esse procedimento permite desvelar valores axiológicos que se encontram subentendidos às performances de tais actantes.