A representação da vida cotidiana e do sistema de organização social conformam uma das características chaves das formas de realismo literário latino-americano do início do XX. A construção ficcional do fracasso do idealismo nacionalista das personagens-cidadãos Policarpo Quaresma em Triste fim de Policarpo Quaresma (1915) de Lima Barreto, e Gonzalo Ruiseñol em En este país...! (1920) de L.M. Urbaneja Achelpohl, articula emancipação política, literatura de fundação nacional e representação narrativa de maneira de revisar a história republicana respectiva do Brasil e a Venezuela. Policarpo e Gonzalo são portadores dos ideais patrióticos em sintonia com a retórica nacional da literatura fundacional e, por tanto, do seu caráter “ex-colonial” numa ambivalência que oscila entre, por um lado, reconhecer a inclusão do sujeito de margem étnica e social e, por outro, reproduzir o mesmo olhar ocidental e colonizador que no passado marginalizou esse sujeito desapropriando-o de sua terra, catequizando-o e escravizando-o, e que agora (esse mesmo olhar) arrisca se repetir através da nova linguagem libertária do ideário republicano de inspiração francesa contida no novo projeto civilizador do constitucionalismo. A dessemelhança entre a interpretação oficial da nação e a prática societal excludente se textualiza no dilema patriótico das personagens e evidencia, em formas particulares a cada Estado-nação, usos não igualitários nem libertários do constitucionalismo que interligam tanto as personagens fictícias quanto os sujeitos históricos de margem. A análise da personagem e enunciação romanesca constroem textualmente aquela dessemelhança revelando a ambivalência ex-colonial na origem da república sul-americana.