DA ESTRANHEZA AO ESTRANHAMENTO NA FORTUNA CRÍTICA DO EUMario Cesar Newman de QueirozA poesia de Augusto dos Anjos recebeu logo na estreia atenção da crítica. O que causa certa surpresa, pois, como ressalta José Paulo Paes, tratava-se do primeiro livro de rapazola de província recém-chegado ao Rio de Janeiro sem inserção na vida literária da capital. Mas o que chama atenção também, e que se tornará por muitos anos um lugar comum crítico, é uma aceitação parcial da poesia de Augusto. Mesmo quando há um retumbante elogio, como fez Euricles de Matos, em A Tribuna, em 13 de junho de 1912, talvez apenas 7 dias após o lançamento, ao colocar o Eu como o acontecimento literário do ano, há sempre um senão, um remendo a ser feito. E esse senão recai exatamente, podemos perceber hoje, sobre o que torna a poesia de Augusto dos Anjos tão própria, tão singular: seu movimento de desterritorialização de temas e vocabulários de diferentes campos de leitura, dos almanaques, da filosofia, da religião, das gazetas, do cientificismo, sobretudo do cientificismo de Ernest Haeckel, para reterritorializá-los em seus procedimentos poéticos. Muito desse elogio com reprovação não se modificará mesmo com a retomada do autor pela crítica especializada, universitária dos anos 60 e 70, como buscaremos demonstrar. A situação somente começa a se transformar com o deslocamento da estranheza desabonadora para o estranhamento valorativo com Josè Paulo Paes já em meados dos anos 80. Foi preciso superar a desconfiança da primeira crítica, ainda pautada em valores românticos e impressionistas, a desconsideração dos modernistas (exceto Bandeira), a purgação ideológica da crítica universitária de muita gente consagrada, para que os traços singularizadores da poesia de Augusto fossem tratados com positividade. Acompanhar esse roteiro crítico é vital para aquilatar essa poesia e as limitações da crítica, mesmo a mais especializada.Palavras Chave: Augusto dos Anjos, Poesia Brasileira, Crítica Literária.