O trabalho é parte de uma dissertação que investiga a educação sexual na década de 1950. Na disputa por uma autoridade sobre o sexo, dois discursos se destacam nesse período: a psicanálise, enquanto especialidade médica recém-institucionalizada no Brasil, e o catolicismo, enquanto discurso moralizador do sexo. A partir da educação sexual, busca-se identificar as tensões e ambiguidades entre psicanalistas e católicos, uma vez que havia uma preocupação compartilhada com a leitura como garantia de uma sexualidade biológica e moralmente “saudável”. A imprensa foi o veículo privilegiado por ambos os grupos, a exemplo das revistas ilustradas Seleções Sexuais e Ciência & Sexualidade e dos periódicos católicos Lar Católico e A Família Cristã. Apesar das especificidades, compartilhavam do interesse em educar seus leitores, contribuindo para a circulação da educação sexual para um público leigo, que incluía desde jovens virgens a pais interessados em iniciar seus filhos nos assuntos sexuais, além de indivíduos que buscavam ajuda na correção de comportamentos “desviantes”, como homossexualidade e masturbação. Através das seções de aconselhamento médico ou espiritual, os leitores “confessavam” suas angústias íntimas e recebiam instruções dos conselheiros. A confissão, em diálogo com Michel Foucault (2017), é entendida como matriz produtora de uma verdade sobre o sexo. Além disso, Roger Chartier (2002; 2011) contribui para pensar as apropriações desses saberes por leigos, objetivando compreender em que medida a educação sexual ocorria nas fronteiras entre ciência e religião nos cuidados com o corpo e a saúde.