Muitas discussões teóricas (Rojo, Lajolo, Kleiman, Pinheiro) têm fundamentado as práticas de letramento na escola como caminho para a formação crítica dos educandos. Rojo em Letramentos múltiplos, escola e inclusão social nos diz que o letramento pode ser construído através da prática de leituras de textos literários, já que a experiência com a literatura pode gerar um percurso significativo no processo de ensino e aprendizagem. Diante das questões reverberadas anteriormente, a nossa proposta aponta a contação de histórias feita por meio dos gêneros fábula e poesia como uma perspectiva relevante para a formação crítica do leitor infanto-juvenil, uma vez que apresenta diferentes perspectivas de uma mesma história modalizadas conforme a intencionalidade e o gênero literário. A contação de histórias sempre teve um papel determinante na educação, e em sociedades antigas representava o eixo central de transmissão de valores através da narrativa oral, como se deu na África do poeta Amadou Ampâté Bá. Com a expansão urbana e industrial a contação oral das histórias foi minimizada. As histórias orais se não deram lugar, motivaram o surgimento das narrativas escritas de caráter popular, a exemplo das fábulas. Nesse contexto, o novo contador de histórias é aquele que se apropria da palavra escrita para representar os valores da tradição e preservar, assim, a memória coletiva que ratifica a identidade de um povo. Premissa que já ressalta a presença salutar das histórias populares como meio de encontro com a própria cultura, e por isso mesmo, estimulante no processo ensino/aprendizagem. Os novos contadores através de cordéis, fábulas e contos populares matizam lendas, mitos e histórias que estão no imaginário popular, estimulando por meio de um tecido dialógico ou intertextual a empatia do leitor infanto-juvenil, promovendo por sua vez a fruição estética, a interpretação do texto e consequentemente do mundo. Por isso, procuraremos discutir como as narrativas da oralidade estão representadas nos gêneros fábula e poesia e como esses gêneros podem ser trabalhados na contação de histórias e no processo de formação do leitor. Para isso faremos uma discussão crítica das fábulas A cigarra e a formiga, de Esopo; A cigarra e a formiga, de Monteiro Lobato e dos poemas A cigarra e a formiga, de João de Deus; A cigarra, de Da Costa e Silva e As cigarras, de Sérgio de Castro Pinto.