Este artigo se orienta a partir dos pressupostos teóricos postulados pela Análise de Discurso de linha francesa, uma corrente investigativa dos estudos da linguagem que se constitui pela relação língua, sujeito e história. Objetivamos, em nosso trabalho, uma análise acerca dos discursos do puritanismo religioso da Inglaterra do século XIX e do seu dual, o discurso herético dos transgressores da lei vitoriana. Intentamos perceber como ambos atuam, de forma intrínseca, na constituição dos sujeitos daquela sociedade. Para tanto, apropriaremo-nos do discurso da obra O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, onde o belo e o horrendo representam, respectivamente, de forma simbólica, o puro e o pagão. Procuraremos, pois, descrever e analisar como esses discursos perpassam as personagens dessa obra considerando, assim, a “ situação de enunciação”, onde estão envolvidos o sujeito que fala, o seu lugar social e o período histórico, enfim, todo um contexto de produção do texto literário. Para basilar as nossas análises apoiamo-nos em categorias analíticas como sujeito, memória discursiva e interdiscurso. Nossa pesquisa tem como norte os escritos de Michel Pêcheux. Também nos orientaremos pelos diálogos e duelos deste pensador com outro filósofo francês, Michel Foucault, de grande relevância para a Análise de Discurso de tradição francesa. Ainda se farão presentes em nossa discussão, outros estudiosos tais como Orlandi, Courtine, e Fernandes que tem suas pesquisas acerca dos discurso imersas nos postulados dessa teoria . Ao final de nosso trabalho, as análises pretendem revelar um Dorian Gray dual, tão belo quanto monstro. Um sujeito não uno, mas clivado pelas diferentes vozes que se encontram em sua constituição.