“O pessoal é político” é um slogan da segunda onda do feminismo, onde os grupos de conscientização das mulheres perceberam que os aspectos da vida privada diziam respeito dos valores impostos pela sociedade, desde a cor das roupas até as escolhas de carreiras e apoio aos movimentos sociais. A vida privada/ direito privado é controlada pelo direito público/ opinião pública. Com o passar dos estágios do individuo ele acaba internalizando todos esses conceitos como verdadeiros e pior, como único caminho correto a ser seguido. De fato, a naturalização é uma importante ferramenta para absorvermos toda a discriminação presente nas relações sociais. Ela é essencial para que essas relações se tornem invisíveis, ou irrelevantes, para o debate. Vemos isso nas pautas de gênero, de classes, entre outros. Os valores sociais tendem a marginalizar os movimentos, e ainda, se esses movimentos puderem ser reformulados, para se vender uma versão mais acessível e esvaziada de seu significado, eles o fazem. Expressões como: Trabalhar como um negro; programa de índio; serviço de branco; por trás de um grande homem existe uma grande mulher; falar como uma lavandeira; conversa de macho; preto de alma branca; Não sou tuas negas; cabelo bom e cabelo ruim; Só podia ser mulher- São algumas expressões que ouvimos e reproduzimos ao longo de nossas vidas e que paira sobre profundas divergências econômicas e sociais do nosso país, num processo histórico. Romper toda a tendência à “guetificação” presente também nas instituições educativas supõe um grande desafio para a educação. E aí é onde se encaixa o empoderamento desses povos. Uma vez que esse proporciona a liberdade e a possibilidade das pessoas que, historicamente, tiveram menos poder na sociedade a serem sujeitos de suas vidas, serem atores sociais. Favorecendo uma organização e participação ativa na sociedade civil. Dentro dessa busca por mais conscientização, se encaixa a literatura, pois nas sociedades ela tem sido um instrumento crucial de instrução e de educação, sendo proposta aos sujeitos como equipamento intelectual e afetivo. Cada sociedade cria as suas manifestações literárias a partir de suas crenças, seus sentidos, suas normas, a fim de criar e sustentar em cada um a presença e atuação da cultura já instaurada. A literatura tem o papel essencial na incorporação difusa e inconsciente de ideais. Concernente a Antonio Candido: Toda obra literária é, antes de mais nada, uma espécie de objeto construído; e é grande o poder humanizador desta construção, enquanto construção.