O trabalho analisa o conjunto Walker, de Tsai Ming-liang, composto por uma série de curtas, médias e longas-metragens, pensados como videoinstalações para circularem em espaços de museus e galerias de arte. A liminaridade de tais espaços, isto é, sua característica transitória, como locus de passagem, configura uma instabilidade explorada internamente nas obras de Tsai, com implicações identitárias. Nos filmes do conjunto, o monge interpretado por Lee Kang-sheng, ator de quase todos os filmes do diretor, move-se de maneira extremamente lenta, como um corpo estranho, por espaços liminares — ruas abarrotadas, escadas, corredores, praias, galerias vazias etc. —, estabelecendo temporalidades queer, com sobreposição de ritmos e estratos de tempo. Como aporte bibliográfico, recorremos a Jean Ma para pensar a temporalidade queer, a partir da coletânea do Realismo fantasmagórico (org. Cecília Mello, 2015); sobre aspectos gerais da obra de Tsai, há livros e artigos diversos, de pesquisadores como Fran Martin, Nicholas de Villiers, Song Hwee Lim, Tiago De Luca, Elena Tyushova etc.; por fim, para refletir sobre os espaços liminares, reportamo-nos a autores de distintos campos, da filosofia à arquitetura, passando pela arte contemporânea e pela psicologia, sem perder de vista a experiência particular do cinema, que se complexifica com o gesto queer — borrador das fronteiras entre as artes e seus circuitos exibidores — operado por Tsai Ming-liang.