O presente trabalho visa apresentar a íntima relação entre colonialidade e cisheterossexualização compulsória, bem como identificar traços que ainda instituem a cisheterossexualização como fundamento colonial nos dias atuais. Esta pesquisa busca na literatura argumentos que apresentam como a América Latina e Caribe atraíam os interesses exploratórios de riqueza e de dominação de reinos europeus, além da atenção da Igreja contra o “pecado” associado aos “desvios” da ordem de gênero e sexualidade padronizada pela normatização europeia. Segundo Fernandes (2016) e Gontijo (2021), essa compreensão e imposição se deu a partir da hegemonia do dimorfismo sexual e do binarismo de gênero moldados pela moral cristã em íntima associação com os biopoderes científico-jurídicos. Para compreender esse enquadramento dos gêneros e sexualidades enquanto fundamento colonial, recorremos a Fernandes (2016) que, ao adotar a terminologia “colonização das sexualidades indígenas”, se refere, dentre outras coisas, à “heterossexualização indígena” como parte constitutiva do processo de colonização. Seria possível afirmar que a colonização também se sustentaria na cisheteronormatização dos povos indígenas? Gontijo (2021) ressalta a importância de nos voltarmos para as histórias, saberes e ações dos povos indígenas brasileiros a fim de que possamos aprender e apreender proposituras e agenciamentos que se ponham a favor da decolonialidade e, também, do anticolonialismo. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo central analisar os fantasmas coloniais que ainda assombram as ideias de pecado, desvio e doença frequentemente acionados para se referir aos corpos e desejos da dissidência sexual e de gênero no contexto latino-americano e caribenho dos dias atuais.