No célebre texto “Racismo e sexismo na sociedade brasileira” de Lélia Gonzalez (1984) a intelectual negra ironizou, bem como descortinou a objetificação branca sobre a cultura e corporeidade da população negra. Ao trazer a afirmativa que “o lixo vai falar e numa boa” a autora utilizou de tom jocoso, como de uma proposta de autoafirmação de uma intelectualidade negra emergente numa academia que vivia o período pós-ditatorial (PEREIRA, 2010). Apesar do lugar de subordinação destinado à população na sociedade brasileira (posição quase intransponível na estrutura social devido as consequencias do racismo), Lélia tratou de questões sociais a partir de um ponto de vista negro, ou seja, localizado. Cabe mencionar que a socióloga apresentou o referido texto no evento da ANPOCS (espaço acadêmico bastante elitizado para época). Neste contexto, poucas eram as vozes que refutaram o discurso de relações raciais harmoniosas e que o Brasil era um paraíso racial. Certamente, os trabalhos produzidos pelo Projeto Unesco durante a década de 1950 foram os primeiros passos para descortinar a dureza das relações raciais brasileiras. No entanto, o pionerismo de intelectuais negros no campo como Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982), Virgínia Bicudo (1910-2003) dentre outros não tiveram as devidas atenções e reconhecimento no espaço acadêmico. Vozes que foram contra-narrativas no passado foram relegadas ao esquecimento, apagamento e tiveram o silenciamento de suas obras. Tratados como quase-cidadãos (GOMES, 2012) ao longo do processo de pós-abolição, de consolidação da República, negros e negras estiveram sempre longe de representações positivas e dignas nos veiculos midiaticos, tais como: manuais didáticos. Nem o processo de redemocratização da sociedade brasileira ocorrido ao longo dos anos de 1980 e 1990 transformou aceleradamente as imagens coloniais e estereotipadas sobre corpo e cultura negra. Este trabalho tem por objetivo apresentar um breve relato de experiência docente no contexto da disciplina sociologia da Educação Básica. Neste sentido, descrever por quais meios estamos inserindo a Lei de n. 11.645/2008 no currículo da sociologia escolar. Nossa intenção é mostrar como o pensamento intelectual e o ativismo político de mulheres negras são abordados em nossas aulas. O referencial teórico está ancorado nos debates do campo da Educação para as Relações Étnico-raciais (ERER), Feminismo Negro e Ensino de Sociologia. Os métodos e técnicas de pesquisa utilizados foram a revisão de literatura, levantamento bibliográfico, observação participante (visto que ministrei os conteúdos, anotei os resultados e pensei no aperfeiçoamento das atividades a partir dos debates gerados em sala), aplicação de questionários e outras formas de registros escritos pelos discentes.