As práticas discursivas, estabelecidas historicamente, são responsáveis pela produção de sujeitos dos discursos. Isso implica em afirmar que a história irrompe pelo discurso desse sujeito, também forjado historicamente. A produção dos sentidos e seus efeitos fornecem possibilidades substanciais para o reconhecimento do retorno, da troca, do equívoco, do deslizamento que constituem o discurso e seu sujeito por meio das heterogeneidades, as quais implicam-se mutuamente, buscando uma “negociação” (AUTHIER-REVUZ) no interior do processo constitutivo do discurso materializado nas várias dimensões das formações discursivas relativas às instituições sociais. A noção de formação discursiva, como dispositivo metodológico, postulada por Foucault, será utilizada para analisar os discursos sobre a maconha produzidos e emanados de alguns lugares institucionais, como as áreas médicas e jurídicas no Brasil. O intuito é depreender neles irregularidades intrínsecas aos discursos responsáveis por tornar bastante tênue qualquer traço determinista que figure como autonomia do sujeito do discurso. Utilizando o suporte teórico da Análise do discurso Francesa e dos estudos dos modos de subjetivação do sujeito, busca-se mostrar como esses discursos institucionais desenvolveram-se, destacando as relações de força e de sentido profundamente imbricadas no processo histórico de representação do real, por meio da linguagem e do discurso, como meio efetivo de reatualização e reprodução de sentidos que mobilizam existências remotas, tornando recorrente uma permanência discursiva carregada de ideologias e advindas de posicionamentos enunciativos institucionalizados, responsáveis por sedimentar formas de representação do real convenientemente controladas pelo discurso e suas relações de poder.