O presente trabalho tem como objetivo analisar o abuso e a exploração sexual de meninas e mulheres negras, encenadas nas obras A pele das coisas (2018) e O sol do dias (2020), da escritora sergipana Taylane Cruz. Para empreender a análise, visamos os enfoques narrativos dos contos Boneca de pano e Suely dos Anjos Coração, histórias que representam o racismo, o patriarcado e a dominação capitalista como pilares interligados que sustentam a efetivação e permanência dessas violências que se perpetuam ao longo dos séculos e são representadas no terreno literário. No decorrer do estudo, pretendemos descortinar essas violências que encenadas na ficção de Taylane Cruz revelam-se como expressões do racismo cotidiano (KILOMBA, 2019). Como embasamento da discussão teórica desta pesquisa, recorreremos aos estudos de: Hooks (2018), Kilomba (2019), Nascimento (2021), Silva (2018) e Souza (2021). Nesse sentido, verificamos que a construção literária de Taylane, através de um olhar sensível e poético, faz a denúncia dos abusos praticados contra personagens meninas-mulheres-negras, processo esse que é legitimado a partir do tripé: racismo, patriarcalismo e dominação capitalista. Diante desse contexto, podemos observar que a narrativa poética e transgressora da jovem ficcionista Taylane Cruz, escritora negra nordestina, reverbera de maneira potente, funcionando como uma ferramenta de denúncia e de preservação de memórias dos corpos-territórios, ao mesmo tempo em que cria possibilidades de enfrentamento às violências contra meninas e mulheres negras, para que não as esqueçamos abandonadas nas valas das estatísticas e da banalização.