As narrativas contemporâneas influenciadas pela proposta estética da Literatura Latino-Americana do pós-boom fornecem inúmeras possibilidades de discussão crítica sobre suas formas e seus aspectos socioculturais e artísticos. Tengo Miedo Torero de Pedro Lemebel insere-se nesse contexto, propiciando várias chaves de leitura e reflexões crítico-dialéticas. Assim, propõe-se, neste trabalho, discutir e refletir alguns paradoxos, tensões e aspectos da política, do espaço social da ditadura chilena e do desejo humano, buscando também compreender, nessa obra de Lemebel, um pouco mais sobre a dimensão de sua escrita e de suas subversões estéticas e sociais. Permeada por dualidades e pela coexistência de oposições, que podem ser caraterizadas por um tom barroco, essa narrativa lemebeliana apresenta traços que vão desde o questionamento de práticas autoritárias, discussão de propostas de revolução social à dimensão do desejo e seus limites e fronteiras, como a relação de amizade/querer dos protagonistas La Loca del frente (uma travesti madura) e Carlos (um guerrilheiro heterossexual). Dialogando com conceitos diversos como o de hibridização de formas de narrar, subjetividade trans e desterritorialização/ reterritorialização, este artigo fundamenta sua discussão em teóricos como ALVES (2012), DELEUZE & GUATTARI (2009), GUATTARI; ROLNIK (2010), HAESBAERT(2009) LEITE JÚNIOR(2017) e POBLETE(2018) para corroborar o fato que a narrativa discutida reitera o projeto literário-político de Pedro Lemebel promovendo, literariamente, fraturas e redimensionamento da estrutura social dominante.