Em Discurso sobre o colonialismo (2020, p.24) Aimé Césaire apresenta a equação “colonização = coisificação”. Não há meio termo em sua análise contundente sobre a violência perpetrada por este sistema. Tampouco há meio termo no conto “Manifiesta no saber firmar, nacido: 31 de diciembre” (2006) de Estercilia Simanca Pushaina, no qual a autora leva o leitor ao cerne da questão sobre a colonização e suas marcas na população indígena Wayuu a partir da narrativa realizada pelo olhar atento de Coleima Pushaina. A narradora conta sobre a relação entre os políticos da região e seu povo, além da violência linguística orquestrada com a troca de nomes e data de nascimento realizada no momento de registrar a identidade, que os coloca em uma situação de inferioridade frente ao caráter satírico atribuído aos novos nomes escolhidos. Deste modo, a partir dos sentidos de relação destacados por Glissant (2021), Kilomba (2019) e Krenak (2020) este estudo busca mostrar o processo de recuperação da língua originária pelo olhar de uma escritora Wayuu sobre a violência que acometeu seu povo e deixou marcas a partir de um registro ofensivo. Com a explicitação das intervenções violentas realizadas, a narrativa de Estercilia denuncia a situação de seu povo, ao mesmo tempo em que resgata o vocabulário Wayuu, retomando a palavra/território.