"O mundo de amanhã será a África" (MBEMBE, 2016). Essa afirmação vincula tempo e espaço, categorias narrativas evocadas no conceito de afrofuturismo, pois trata-se de um movimento artístico, estético, cultural, político e filosófico que tem como foco uma visão afrocêntrica e o protagonismo negro, seja na realidade seja na ficção; nessa última o “protagonismo” é extensivo, já que parte da criatura ao criador, uma vez que se reivindica essa posição de destaque tanto no que se refere à autoria quanto à criação de personagens. Na literatura, por meio da ficção especulativa e seus subgêneros, esse conceito propicia reflexões acerca de como construir um futuro mais justo e a reivindicação de um espaço e lugar de fala para a população negra. Assim, realidade e ficção caminham em paralelo de modo que a arte literária parte da crítica social. Nesse sentido, o presente trabalho objetiva analisar a narrativa afrofuturista O caçador Cibernético da Rua 13, de Fábio Kabral (2017), a partir das categorias espaço e lugar de fala. Em nossa leitura da obra, algumas questões são suscitadas: qual o espaço ocupado pelas personagens negras na narrativa? Como a literatura afrofuturista permite uma reflexão acerca do ser negro/a na sociedade brasileira? Qual o lugar de fala do negro/negra na narrativa de Fábio Kabral? Para o alcance de nosso objetivo e com vistas a responder os questionamentos, nos valemos dos conceitos de afrofuturismo proposto por Dery (1994); Womack (2013) e Souza (2019), afrocentricidade, com base em Asante (2009) e lugar de fala desenvolvido por Ribeiro (2017) e Mattos (2021), com o intuito de analisar o enredo e as personagens, além das categorias mencionadas.