O processo de inscrição histórica dos discursos sobre diversidade, sobretudo, as questões voltadas aos conceitos de pertença, gênero e etnia tem intensificado o debate público em torno da noção de identidade negra e seus desdobramentos no Brasil nas últimas duas décadas. O objetivo desta proposta, portanto, é discutir aspectos de uma discursividade residual no processo constitutivo da produção artística, especificamente no campo do lítero-musical, e como tais marcas discursivas funcionam como ativadoras da pertença e ancestralidade negra. Para tanto, a proposta emerge de uma leitura da canção “Respeitem meus cabelos, brancos”, do cantor e compositor paraibano Chico César. Entendemos que essa canção ativa campo semiosemântico de memória, ancestralidade e resistência de um sujeito violentamente tornado subalterno dentro do jogo social imposto pela dinâmica colonial. Assim, o enunciado central que intitula a canção, se sustenta na afirmação de um lugar de fala (e luta) que, metonimicamente, se coloca por meio do cabelo: que dá uma parte do todo (uma pessoa negra) e que, ao mesmo tempo, é o próprio todo (etnia) ao qual pertence o sujeito enunciador (o eu lírico, que nos fala dentro da canção). Na realização desta leitura nos valeremos de aporte semiótico para a análise discursivo-estrutural do texto em questão (Peirce, Tatit e outros), também das contribuições teóricas que privilegiam embate indivíduo/coletivo e suas disputas de poder (Foucault, Bourdieu, Deleuze e Guattari) além das proposituras da Teoria Crítica (Escola de Frankfurt, em especial, Benjamin) e a Crítica Pós-Colonial e seu enfoque sobre outros olhares para o movimento das margens.