Este trabalho analisa e discute as relações entre a literatura produzida por autoras e a temática das ditaduras militares latino-americanas, especificamente, nos casos da brasileira e argentina. Para isso, foram escolhidas três narrativas em prosa publicadas no Brasil contemporaneamente, Azul-corvo (2010), de Adriana Lisboa, Mar azul (2012), de Paloma Vidal, e Mulheres que mordem (2015), de Beatriz Leal. Nos livros, é possível perceber como a perspectiva das protagonistas, sendo duas narradoras autodiegéticas (com exceção de Mulheres que mordem), além de outras personagens mulheres, relacionam-se com questões como a memória, os traumas, a (im)possibilidade de superação dos acontecimentos ainda recentes nas histórias desses países e as suas vivências enquanto mulheres – atingidas direta ou indiretamente nesses e por esses fatos. Por meio das narrativas ficcionais, leitoras e leitores são conduzidas(os) a remontar um percurso histórico com muitas feridas abertas e a se defrontar com a realidade de movimentos como As Mães e as Avós da Praça de Maio, em Buenos Aires, nas narrativas de Beatriz Leal e Paloma Vidal, e com a Guerrilha do Araguaia, no Brasil, no romance de Adriana Lisboa. Questões como torturas aplicadas em homens e mulheres, violências (físicas, sexuais, psicológicas) específicas contra mulheres, bem como organizações clandestinas de resistências e a participação das mulheres, além das formas como esses regimes ditatoriais civis-militares aconteceram e modificaram o cotidiano das sociedades são abordadas durante a construção dessas personagens pensadas por escritoras contemporâneas. Para a discussão, busca-se trazer as autoras Beatriz Sarlo, Regina Dalcastagnè, Maria Rita Kehl, Amelinha Teles, Lélia Gonzalez, Rita Segato e María Lugones.