Na antiguidade, a tragédia grega era vista como um meio encontrado pelo Homem para refletir sobre seus problemas existenciais e o mito funcionava como uma narrativa alegórica representante dos conflitos humanos. Assim, Reis (2013) pontua que a essência trágica na obra de arte só é possível porque ela é inerente a realidade humana. Contudo, essa visão aparenta ter transcendido os limites do tempo, posto que na contemporaneidade ainda continuamos recuperando essa forma de pensar o mundo. Nessa perspectiva, o texto Pedreira das Almas, de Jorge Andrade, retoma a tragédia Antígona, de Sófocles, especificamente a imagem de um corpo insepulto, colocando em oposição as leis naturais e as leis do Estado a partir de um enredo que retoma à Revolta Liberal de 1842. Portanto, a malha teatral de Pedreira das Almas nos permite refletir acerca do que Albin Lesky (1996) denomina de cosmovisão trágica e da transposição do mito de Antígona em culturas e tempo-espaço distintos, além possibilitar a compreensão de como o conteúdo trágico está em diálogo com a forma da tragédia nessa peça.