ESTE TRABALHO TEM POR FINALIDADE INVESTIGAR A VERSÃO ORIGINAL DO CONTO A BELA E A FERA ESCRITA POR GABRIELLE- SUZANNE BARBOT DE VILLENEUVE, MAIS CONHECIDA COMO MADAME DE VILLENEUVE, PUBLICADA NO LIVRO LA JEUNE AMÉRICAINE, OU LES CONTES MARINS EM 1740. O ENREDO DA OBRA CONTRIBUI PARA UMA REFLEXÃO ACERCA DO MATRIMÔNIO DURANTE A MODERNIDADE, AO PASSO EM QUE DESCONSTRÓI O PAPEL DAS MULHERES COMO SUBMISSAS E PASSIVAS NO QUE TANGE ÀS RELAÇÕES DE PODER, DOMINADAS PELO PATRIARCADO ARISTOCRÁTICO E BURGUÊS DO SÉCULO XVIII. A CHAVE DE COMPREENSÃO DE LEITURA DESTA PESQUISA BASEIA-SE ENTÃO, NO DISCERNIMENTO DAS IDEOLOGIAS QUE INFLUENCIAM O ALCANCE E OS OBJETIVOS DAS PUBLICAÇÕES LITERÁRIAS DE CONTOS, ANTERIORMENTE TRANSMITIDOS ORALMENTE, QUE AGORA ESCRITOS, BUSCAM MOLDAR VALORES E COSTUMES SOCIAIS. ANALISA-SE TAMBÉM A PRODUÇÃO DE CONTOS DE FADAS ESCRITOS POR MULHERES E SUAS PROJEÇÕES E PERSPECTIVAS PRESENTES EM SUAS NARRATIVAS.
OS CONTOS DE FADAS PUBLICADOS NA FRANÇA ENTRE OS SÉCULOS XVII E XVIII CONSISTEM EM UM LONGO PROCESSO DE PERSONIFICAÇÃO E ADAPTAÇÃO PARA A PROSA DE ESTÓRIAS ORAIS TRANSMITIDAS NAS SOCIEDADES EUROPEIAS. AO SEREM TRADUZIDOS E REESCRITOS EM OUTROS PAÍSES MUITOS CONTOS PERDIAM SUA LEGITIMIDADE CRIADORA, POIS, NÃO ERAM IDENTIFICADOS SEUS AUTORES, VISTO QUE AS EDIÇÕES VISAVAM PREPARAR CONTEÚDOS ÚTEIS À EDUCAÇÃO INFANTIL, AO MESMO TEMPO EM QUE GUIAVA AS CRIANÇAS NOS CAMINHOS “VIRTUOSOS” DO BEM, DE ACORDO COM OS COSTUMES E PRÁTICAS RECORRENTES DE SEU PERÍODO.
NO BRASIL, SOMENTE NO SÉCULO XXI É QUE O LEITOR SERÁ APRESENTADO AO AUTOR EM PREFÁCIOS, TEXTOS DE APRESENTAÇÃO E COMENTÁRIOS QUE DESCREVEM A VIDA E OBRA DOS ESCRITORES DOS CONTOS. NO ENTANTO, POR MEIO DA REESCRITA, OCORRE TAMBÉM A RESSIGNIFICAÇÃO DE IDEOLOGIAS E SIMBOLISMOS, QUE TORNAM SEUS REESCRITORES TÃO IMPORTANTES COMO SEUS ESCRITORES, NO QUE DIZ RESPEITO À SUA RECEPÇÃO PELOS LEITORES POPULARES. PARTINDO DESTE PRESSUPOSTO, O QUE DETERMINARIA O SUCESSO DE UMA OBRA NÃO SERIAM SOMENTE OS GASTOS INVESTIDOS EM SUA PUBLICAÇÃO OU O NOME DE SEU AUTOR, MAS SIM UMA SÉRIE DE COSTUMES, PRÁTICAS, IDEOLOGIAS E PODER, QUE REMETEM ÀS INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS NO PROCESSO CRIADOR, E LEVARIAM A CANONIZAÇÃO DE IDEIAS E NORMAS DE CONDUTA QUE PODEM SER ACEITAS POR SEUS RESPECTIVOS LEITORES. NESTA PESQUISA ESTUDA-SE, A VERSÃO DA OBRA A BELA E A FERA, DE MADAME DE VILLENEUVE, CUJA PRIMEIRA PUBLICAÇÃO É DATADA DE 1740, NA FRANÇA. O CONTO ORIGINAL TRANSIGE A CARACTERIZAÇÃO DA PERSONAGEM BELA POR MEIO DOS ASPECTOS NECESSÁRIOS PARA A CONSTRUÇÃO DO IDEAL DE “BOAS ESPOSAS” REPLETAS DE VIRTUDES, PORÉM, NÃO OMITE OS ANSEIOS E NEM O ATIVISMO DE IDEIAS DA JOVEM, QUE DURANTE A PRIMEIRA PARTE DO CONTO, LUTA PELO SEU DIREITO DE PERMANECER SOLTEIRA AO RECUSAR DIVIDIR O LEITO COM A FERA.