O ensino de língua não deve ser confundido com ensino de regras gramaticais. Pautados nessa percepção, constitui objetivo nosso, neste trabalho, apresentar uma análise de alguns recortes de textos de alunos do nono ano do ensino fundamental de uma escola pública de João Pessoa, produzidos durante aulas de língua portuguesa. Buscamos observar a utilização e os efeitos de sentido conferidos às chamadas conjunções coordenativas adversativas: se são utilizadas apenas para unir orações ou se revelam algo a mais que essa simples função. Para tanto, lançaremos mão, em nossas análises, dos pressupostos teóricos postulados pela Teoria da Argumentação na Língua, apresentada por Ducrot e colaboradores (1988), tendo em vista que intentamos realizar uma análise semântico-argumentativa dos elementos tidos como conjunções coordenativas adversativas, para as gramáticas tradicionais e manuais didáticos, e operadores argumentativos para a teoria aqui escolhida como suporte. Para tal teoria, os operadores orientam os enunciados para determinadas conclusões, revelando, assim, serem eles, os operadores, verdadeiros portadores de argumentatividade. As análises revelaram que os locutores utilizam elementos como "no entanto, embora" e "mas" não apenas com o objetivo de unir/ligar termos equivalentes sintaticamente, como propõem os manuais didáticos, mas para possibilitar determinadas continuidades no enunciado, além de orientar esses enunciados para conclusões que são opostas. Um trabalho nessa perspectiva se mostra relevante, pois estuda a língua em uso e a percebe não como objeto abstrato, como já foi proposto pelos formalistas/estruturalistas, mas como um meio de interação entre os indivíduos de uma sociedade, através do qual os sujeitos apresentam seus pontos de vista, isto é, argumentam, impõem suas posições no mundo e sobre os outros.