Numa entrevista de 1997, ao ser perguntado sobre o seu ceticismo quanto à existência de uma literatura latino-americana, o escritor Juan José Saer reiterou: “Para mim a literatura latino-americana é apenas uma categoria histórica, ou sequer histórica, talvez uma categoria geográfica, não sei como chamá-la, mas não é uma categoria estética. Para mim não há nacionalidades de romancistas; para mim há escritores e ponto” (SAER, 2005, p. 158). Apesar do seu tom taxativo ao rechaçar tais tais categorias nos parece que as mesmas jogaram, e talvez ainda joguem, um papel incontornável na construção literária em nosso tempo. Com efeito, se nos atentamos a obra do autor conseguimos ver que não somente Saer se preocupou com a “argentinidade” de seus relatos como de fato investigou a fundo a História argentina para tirar dela um entendimento do que é ser senão argentino ao menos um habitante de sua zona. Desta feita, nos debruçamos sobre o “romance histórico” El Entenado (2013) na qual Saer se volta para um momento chave da História argentina, isto é, o descobrimento do pampa pelos espanhóis assim como os primeiros contatos entre estes e os nativos, no intuito de compreender o capital aspecto, na sua visão, da identidade argentina, o delírio.