Ao percorrer a obra de Mariana Enríquez iremos encontrar um universo próprio em que predomina um entorno de mistério, de medo, de situações cotidianas que terminam de forma macabra, casas abandonadas, crianças perversas ou fantasmas, rituais sombrios, vozes que levam as pessoas a praticarem atos de mutilação no próprio corpo, seres horripilantes que surgem e atormentam as personagens, cabeças que rolam pelas escadas, crianças deformadas. Esses pontos desenham a narrativa da autora e constroem uma obra em que o gênero de terror tece um texto e personagens desconcertantes. Nessa perspectiva, nossa análise do texto de Mariana se desenvolve em duas linhas: a primeira se refere à construção de imaginários da cidade e de atores que por ela circulam e a segunda em como os produtos de diversão e entretenimento balizam a construção desses imaginários ao mesmo tempo em que são acionados pela autora para dar forma a seu texto. Dialogamos com Halbawach (1990), em relação à construção da memória de forma coletiva, Benedict Anderson (2008), no que tange à importância dos imaginários para a construção das sociedades, Appadurai (2004), no que se refere às práticas sociais como produtos de imaginários, e ainda Canclini (2007), sobre como os imaginários atuam na cidade. Concebemos a construção da cidade no livro de Enríquez dessa forma, produto de memórias construídas de forma coletiva que na contemporaneidade ocorre também com forte influencia do consumo de produtos massivos (KELLNER, 2001).