A poesia abarca em si não só uma ordenação de vocábulos, por vezes rimados, alegorias, etc. ela é acima de tudo, como afirma o escritor mexicano Octavio Paz (1989, p.9. T.A.), “um objeto feito de linguagem, ritmos, crenças e obsessões desse ou daquele poeta e dessa ou daquela sociedade”. Ao escolher a poesia do escritor argentino Raúl González Tuñón (1926-1974) direciona-se o olhar à América do Sul, onde o sujeito lírico canta suas angústias, inquietações e, muitas das vezes seus descontentamentos perante uma sociedade moderna claudicante que tem suas origens fincadas na colonialidade (MIGNOLO, 2017), perpetuadora de um discurso hegemônico que não contempla toda a diversidade cultural dos habitantes que nela vivem. Desta forma, busca-se analisar o discurso lírico bem como as representações patrimoniais da cidade moderna, entendendo-a “como cenário de um processo de acumulação de valores históricos e de práticas sociais vividas por seus moradores”. (SILVA, p.10) Ao exaltar aspectos, costumes, hábitos o poeta evidencia construções contrárias a idéia de permanência, contrapondo a noção de patrimônio cultural material, e ampliando assim o conceito ao nível imaterial, pois “é necessário pensar na produção de patrimônio cultural não apenas como a seleção de edificações, sítios e obras de arte [...] mas, como narrativas” (GONÇALVES, 1996, p.22), e nestas encontramos não só conteúdos simbólicos que caracterizam a formação de uma nação, mas também seus atos de resistências ao sistema de poder instituído. Para subsidiar a análise, além dos autores citados também utilizaremos os estudos de Fonseca (2009), Canclini (1994) e Romero (2009).