RESUMO:
Inspirada pelas ideias de Simone de Beauvoir, Rosario Castellanos Figueroa (1925-1974), poeta relevante do século XX, narradora e diplomata mexicana, denuncia em suas obras as condições impostas à mulher, pela sociedade machista e preconceituosa. Em contos, romances, peças de teatro, ensaios e poesia trata de conteúdos políticos, sociais, dando ênfase aos problemas de gênero. Emoções, anseios e mágoas enfrentados em sua existência podem ser detectados em sua literatura. Fugindo ao convencionalismo e aos paradigmas etnocêntricos determinantes no tratamento das questões que envolvem a mulher tanto no âmbito afetivo-familiar como no público, Castellanos põe em discussão a crença de uma “essência feminina” em toda sua obra, destacando-se o tema na peça teatral publicada postumamente El eterno feminino – Farsa (1975), na qual a autora coloca em cena mulheres comuns, envolvidas num mundo de futilidades e insignificância, ao lado de mulheres/mitos da sociedade mexicana como Juana Inés, la Malinche, Rosario de la Peña e Josefa Ortiz, entre outras, que lhe permitem rever, dum ponto de vista feminista, os documentos históricos oficiais. Destacam-se os recursos proporcionados pela farsa que, com um tom caricatural, provoca o riso com os exageros agregados à vida cotidiana, exibindo maior dependência da ação e dos aspectos externos (cenário) que do diálogo e dos conflitos, sem manifestar grandes requintes psicológicos. A teoria de Bakhtin e Bérgson dá o suporte para a perspectiva farsesca da obra; Elena Guiochins serve de apoio para a recepção do texto objeto da analise aqui proposta. O feminismo é discutido à luz dos ensinamentos de Simone de Beauvoir e da própria Castellanos.