Nesta comunicação, observaremos de que modo os textos jornalísticos, ao (re)criarem, através de narrativas, as manifestações sociopolíticas conhecidas como “cacerolazo”, em 2013, na Argentina, durante o governo de Cristina Kirchner, e “panelaço”, em 2015, no Brasil, durante o governo de Dilma Rousseff, corroboram o processo de expansão discursiva do populismo (LACLAU, 2005 [2013]) que desemboca no que vem sendo compreendido como “populismo digital” (CESARINO, 2018, 2019). Enfatizamos assim, nesta apresentação, as construções jornalísticas que, ao viabilizarem a veiculação de certos dizeres (e não outros), sob evidência (cf. MARIANI, 2016) de se tratarem apenas de “um relato de fatos”, contribuem para a produção de ilusões de neutralidade e de imparcialidade, favorecendo uma determinação dos sentidos, que se vinculam a dadas formações discursivas (cf. FOUCAULT, 2014 [1969]), marcadas sempre de maneira sócio-histórica. Neste sentido, ao se inscreverem em discursividades do populismo, o discurso jornalístico colabora para a instauração de polaridades e dicotomias no cenário político que contribuíram, como consequência, para o declínio do kirchnerismo, naquela ocasião, em 2015, no contexto argentino, e para o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, no contexto brasileiro. Ressaltamos que nossa investigação se filia a uma abordagem discursiva, tomando como base pressupostos oriundos da Análise de Discurso. No intuito de elucidarmos nosso debate, examinaremos comparativamente algumas manchetes e trechos de reportagens argentinas e brasileiras, disponibilizadas nos sites dos jornais Clarín, La Nación, Folha de São Paulo e O Globo, nas épocas dos eventos mencionados.