O universo ficcional de Asalto al paraíso intercala o acontecimento de uma insurreição indígena ocorrido por volta de 1709 com a narrativa de um fugitivo da Inquisição espanhola. Entre acontecimentos históricos e ficção, Lobo sublinha os “passados não ditos e não representados que assombram o presente histórico" (BHABHA, 2013, p.36) arquitetando uma serie de estratégias envolvendo as instâncias narrativas – enredo, narrador, personagem - em uma lógica problematizadora. A obra da costarricense foi publicada em 1992, há exatos quinhentos anos após a intrusão europeia na América Latina, período de iniciais aversões ao termo descobrimento e a outras construções europeias; aversões que estimularam a aceitação e o resguarde do patrimônio cultural latino-americano como elemento de construção identitária. Ao se apropriar do patrimônio imaterial de Costa Rica, Lobo expressa uma perspectiva crítica pós-moderna com relação à problematização da historiografia, juntamente com a perspectiva decolonial, sem, pois, reduzir a obra a uma nova versão da experiência histórica subalternizada no país. Dentro de uma lógica subversiva e transgressora, a autora adere à ficção como instrumento de releitura e questionamento das construções deturpadas que a experiência colonial e a historiografia perpetuaram durante décadas. O ponto de partida para a análise das estratégias escriturais advém dos aportes teóricos de Bhabha (2013) e Bonnici (2009). Relacionando a capacidade crítica da obra à experiência contemporânea, aproximaremos as estratégias discursivas detectadas à proposta auto-reflexiva da “metaficção historiográfica” de Hutcheon (1991). E sob o respaldo dos Estudos Decoloniais, Quijano (2009; 2014) e Mignolo (2003; 2018) contribuirão para a reflexão das configurações epistemológicas regadas pela colonialidade do poder.