O núcleo familiar é constituído tradicionalmente por pai, mãe e filhos. Essa composição está presente no conto “A família (à mesa)”, da escritora paraibana Marília Arnaud, publicado no livro Sentimento marginal em 1987 pela Gráfica Santa Maria. Juntos, eles são a típica família burguesa brasileira com suas preocupações e conflitos internos. No conto, é mostrado para o leitor um ambiente sentimentalmente deteriorado pela falta de diálogo, afeto e respeito. A figura do pai é a que predomina como sendo o causador das discórdias que giram em torno da mesa. Todos os outros membros da família o desprezam, mas ninguém tem coragem o suficiente para dizer isso. A autora paraibana emoldura um quadro das desavenças ocorridas no seio familiar e demonstra a opressão contida que faz crescer a amargura no intimo cada um. O objetivo do nosso trabalho é fazer uma interpretação dos personagens, dos conflitos e do meio no qual eles vivem. Sendo assim, propomo-nos também a realizar uma reflexão acerca do retrato da família a partir do conto narrado em terceira pessoa. Nosso embasamento teórico se dá a partir de Roudinesco (2003), que defende que apenas definir a instituição familiar do ponto histórico e antropológico não o suficiente. É necessário entender a origem das transformações que se deram e vigoram até hoje e dos aspectos que ocasionaram a desordem atual e concomitantemente tão atemporal nas famílias. Mencionamos também Rousseau (1964) com as considerações sobre a estrutura familiar e Gancho (2002) que nos auxilia em relação ao gênero conto.