Este capítulo objetiva apresentar os resultados de um estudo pautado em revisão bibliográfica sobre a estratégia estética da utopia empreendida na dramaturgia da Lourdes Ramalho, com ênfase no repertório destinado ao público infanto-juvenil produzido a partir dos anos 2000. Postulações teóricas à luz dos estudos críticos sobre a utopia discutidas por Andrade (2020), Ayala (1997) e Pavis (2015) ajudam a conceber que os utopismos ramalhianos formalizados em seus textos teatrais apontam para uma problematização sobre as identidades de gênero feminino e masculino em contextos de desigualdade em sociedades distópicas regidas por valores patriarcais extremos. O texto teatral Anjos de Caramelada (RAMALHO, 2008), aqui discutido, suscita uma crítica aos papéis de autoridade distribuídos de maneira desigual entre mulheres e homens, dado que o mundo em que as mulheres são subordinadas é convertido num outro, ideal, em que as mulheres são figuras soberanas sobre os homens. Esse texto teatral nos leva a refletir sobre as relações de gênero na contemporaneidade, eixo a partir do qual Lourdes Ramalho põe no papel e às luzes da ribalta enredos críticos e criativos que nos levam sonhar com o devir utópico da equidade de gênero nesses tempos distópicos, particularmente para as mulheres.