A comunicação em saúde se apresenta como uma ferramenta indispensável para fortalecer a relação da tríade criança-cuidador-equipe de saúde, bem como para facilitar a compreensão da própria criança sobre seu adoecimento. Apesar da abundância de estudos na área de comunicação em saúde, a comunicação de notícias difíceis ainda se apresenta como um desafio para profissionais e familiares de pacientes oncológico-pediátricos. Entende-se por notícia difícil qualquer informação que tenha a possibilidade de modificar repentina e negativamente a perspectiva de futuro de quem a recebe - neste caso, a criança com câncer. O presente estudo de caso tem como objetivo explorar o uso de imagens criadas por uma criança de 8 anos, diagnosticada com câncer, como ferramenta educativa facilitadora para comunicação bidirecional do adoecimento na relação psicoterapeuta-paciente oncológico. Foi utilizada a ferramenta “desenho estória” e solicitado à participante que criasse dois desenhos (um desenho livre e um desenho relacionado a sua doença), durante uma video chamada via WhatsApp, audiogravada e posteriormente transcrita. Utilizando-se de uma abordagem histórica-relacional e a partir de uma análise microgenética focalizada na qualidade da co-regulação entre a entrevistadora e a criança, observou-se que os diálogos indiretos sobre o adoecimento constituíram-se como mais ricos, onde a criança elabora seu “desenho estória livre” com uma abundância de detalhes e maior número de personagens, comparados com os diálogos diretamente relacionados à doença. Tendo em vista que a comunicação em saúde pode influenciar na forma como os pacientes oncológico-pediátricos lidam com seu diagnóstico, sugerimos que profissionais de saúde e familiares considerem ferramentas tal como “desenho estória livre” como facilitadoras-educativas para se comunicarem com crianças sobre seu adoecimento.