O trabalho com o texto literário não é uma prática recorrente nos anos finais do Ensino Fundamental, visto que o foco a tal âmbito do estudo de língua portuguesa é dado somente nas séries subsequentes. Outra questão relevante é a ausência de literatura de origem africana nas salas de aula brasileiras, que priorizam a produção escrita eurocêntrica em discordância com a lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da temática História e Cultura Afro-Brasileira. Assumindo a visão de literatura como um direito humano essencial - defendida por Cândido (2004) - surge o tema de pesquisa desenvolvido - uma proposta de atividades dialógicas voltadas à formação de leitores literários no nono ano do Ensino Fundamental, baseada nos estudos de letramento literário e ficcional de Cosson (2014) e Zappone (2021). O ponto de partida para a dissertação é a leitura da obra Terra sonâmbula, do autor moçambicano Mia Couto, em diálogo com outros textos de mesma temática. O objetivo deste trabalho é desenvolver atividades - baseadas na sequência didática proposta por Dolz e Schneuwly (2004) e nas propostas de diário de leitura de Machado (1998) - para incentivar o gosto pela leitura literária em sala de aula, bem como para aproximar alunos e obra ficcional, uma vez que tal livro apresenta um relato de vida próximo àquele vivenciado pela comunidade escolar. O processo de conclusão culmina com a confecção dos “Diários de leitura 9A”, escritos pelos discentes a partir do próprio conhecimento de mundo e da inserção deles na leitura e no contexto moçambicano da guerra civil. O projeto foi finalizado com a tarde de autógrafos dos livros impressos, a entrega deles aos responsáveis pelos estudantes e a distribuição do pdf da produção aos amigos e familiares. Tais atividades e produções são o corpus para análise de todo processo de letramento literário.