O Romantismo brasileiro, na tentativa de estabelecer as suas premissas literárias e ideológicas sobre a identidade nacional, favoreceu aquilo que conhecemos hoje como literatura regional, isto é, uma produção que, em tese, reforça a cor local de uma determinada região. Contudo, na contemporaneidade se nota que tal conceito já não atende mais aos anseios da produção literária regionalmente localizada, pois o termo traz não somente estereótipos, mas também o carimbo de literatura dita menor. Nesse sentido, este trabalho se propõe refletir o regional – esvaziado no modelo romântico – na perspectiva do suprarregional em que os aspectos geográficos e da linguagem, por exemplo, não são empecilhos ou redutores da qualidade estética que alcança a condição de uma literatura nacionalmente representativa. O trabalho se debruçará sobre a literatura regional do Rio Grande do Norte e, de forma mais específica, nas imagens e/ou autoria negra que a produção local representa na escrita. A abordagem se dará a partir dos fundamentos teóricos, literários e culturais da figura do negro na contemporaneidade, as imagens suscitadas na poesia potiguar e a noção de literatura suprarregional. Portanto, a título de apresentar um quadro mais amplo da temática, serão abordados poemas e autores tanto do início dos séculos XX e XXI. Como aporte teórico usamos o conceito de Literatura Afrodescendente de Duarte (2002), o de Literatura Suprarregional de Arendt (2011) e o de Imagologia de Ribeiro (2005). A nossa hipótese é a de que a escrita poética no Rio Grande do Norte, é sucumbida pela noção de regional como espaço geográfico natural e pela crítica literária. Ainda que políticas de identitárias tenham sido fomentadas nos anos iniciais do século XX, a imagem do negro é minimizada na produção poética potiguar e a sua representação ocorre por meio de vozes dissonantes, e dispersas, no cenário cultural e literário potiguar.