O presente trabalho aborda a escrita acadêmica na formação de escritores iniciantes da área de Ciência da Computação (alunos de ensino médio de curso técnico no eixo da informática). Mais especificamente, busca analisar a menção a vozes da ciência em artigos científicos escritos por esse grupo quanto às funções que os escritores atribuem ao discurso de outrem: introduzir um ponto de vista, marcar o pertencimento a uma corrente ou escola, referir-se a trabalhos anteriores, fundamentar uma afirmação, justificar um comportamento e introduzir uma nova ideia, conforme a tipologia de Boch e Grossmann (2002). Amparamo-nos ainda nos estudos sociorretóricos de Hyland (2004) e de Motta-Roth e Hendges (2010), quanto às características da escrita acadêmica. Como material de análise, selecionamos dez artigos, coletados em anais de eventos acadêmico-científicos (locais, regionais, nacionais ou internacionais), sendo, portanto, dados de acesso público. A investigação de tais trabalhos dá-se mediante uma abordagem qualitativa, com a interpretação de excertos extraídos do corpus, complementada por uma representação quantitativa, a partir de nossas categorias de análise - as funções de Boch e Grossmann (2002). As análises evidenciam que os escritores iniciantes utilizam as vozes da ciência predominantemente com a funcionalidade de fundamentar uma afirmação, ocupando mais da metade das ocorrências investigadas. Logo em seguida, destacou-se a atribuição de referir-se a trabalhos anteriores. As funções de discutir uma afirmação e introduzir uma nova ideia não foram empregadas, enquanto as demais funcionalidades aparecem em menores proporções. O uso majoritário da fundamentação de uma afirmação permite inferir que, possivelmente, os iniciantes sintam a constante necessidade de validar seus apontamentos ao longo de seus trabalhos. Portanto, notamos que os estudantes, ao empregarem as vozes da ciência por meio de diferentes funções, demonstram a importância desse recurso como um dos principais traços de cientificidade, tornando-se elemento basilar de sua formação enquanto pesquisadores.