Apesar do preceito constitucional de que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, algumas instituições públicas e privadas praticam a discriminação, limitando ou dificultando o acesso à saúde. Na maioria das vezes, em um país que se afirma existir uma democracia racial, ocorrem situações sutis que impedem identificar o racismo institucional que pode começar ainda no útero. O presente trabalho tem como objetivo realizar um relato de experiência acerca da aplicação de uma Questão Sociocientífica (QSC), sobre a violação e a estereotipação de corpos negros que acontecem em sistemas de saúde. Assim, o trabalho foi desenvolvido no Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Sergipe na disciplina de Didática da Biologia, utilizando como ferramenta pedagógica uma QSC, estruturada a partir de um tema, uma controvérsia, um caso, questões norteadoras, dimensões Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), abordagem na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), e objetivos de aprendizagem (conceituais, procedimentais e atitudinais) baseados em Zaballa (1998). O caso problematizava a violência obstétrica vivenciada por uma mulher negra durante o atendimento na maternidade. A partir da análise dos argumentos que emergiram durante as interações discursivas entre os estudantes, percebeu-se que a QSC trabalhada apresenta grande potencialidade para a formação socialmente engajada de professores a respeito da temática e, além disso, pode ser levantada como forma de promover uma educação antirracista. Quanto à participação dos estudantes, ficou evidente que a maioria compreendeu bem o caso, pois conseguiram estabelecer um diálogo crítico e equilibrado com base nas questões norteadoras. Por fim, constatou-se que a articulação entre a QSC e o tema se mostrou promissora, já que facilitou o entendimento e o reconhecimento das violações sofridas por pessoas negras hodiernamente, resultante do racismo institucional no sistema de saúde, logo, atendeu-se aos objetivos de aprendizagem esperados.