Ao longo do tempo, no município de Nazaré da Mata - Pernambuco, os trabalhadores rurais têm desenvolvido uma forma singular de enfrentamento ao processo de dominação imposto pelo sistema de controle sociocultural resultante da implantação da monocultura e da indústria da cana de açúcar. Em contraponto as práticas culturais desenvolvidas nesse processo de enfrentamento têm permanecido vivas e ecoando no presente, mantendo a sua essência de luta ante a uma cultura dominante. Sobre isso, o maracatu de baque solto tem se configurado como um demarcador das experiências cotidianas daqueles que vivenciam estas práticas culturais em seu dia a dia. Um detalhe importante é que os seus brincantes são formados em sua maioria por homens negros e mestiços, que trabalham no corte da cana. Este brinquedo acaba se caracterizando como um refúgio utilizado no intuito de suportar a vida dura a qual estão expostos. A manifestação tem por característica o uso de cores vibrantes, a produção de sons através dos sinos dos surrões, os estalares dos chicotes e dos instrumentos que anunciam a sua chegada para as apresentações. A manifestação atinge seu ápice de visibilidade midiática durante o carnaval, porém é vivenciado durante todo o ano por seus integrantes. O maracatu mais antigo em atividade ininterrupta é o Cambinda Brasileira e dentre um dos mais novos o Coração Nazareno, único grupo formado exclusivamente por mulheres em todo o estado. Os seus integrantes, ao longo do tempo, têm perpetuado a tradição dos maracatus de baque solto, já que as suas práticas são repassadas por gerações. Essa prática cultural tem funcionado como um instrumento de letramento cultural, termo utilizado por Paulo Freire, já que traz consigo uma dimensão didática pedagógica que contribui para a formação crítica e a construção da identidade dos seus brincantes.