ESPAÇO E LUGAR, AINDA QUE INTERLIGADOS, NÃO CONFIGURAM A MESMA COISA. O ESPAÇO, À MEDIDA EM QUE TOMA FORMA DE SIGNIFICAÇÃO E DEFINIÇÃO, TRANSFORMA-SE EM LUGAR NA VIDA DOS INDIVÍDUOS E A MEMÓRIA É O ELEMENTO CHAVE PARA A EDIFICAÇÃO DESSES LAÇOS AFETIVOS COM TAIS ESPAÇOS. ISSO OCORRE, POIS, DESDE AS DISCUSSÕES MAIS PRIMÁRIAS ACERCA DAS NOÇÕES DE ESPAÇO E DE LUGAR ATÉ AS DISCUSSÕES MAIS COMPLEXAS A NÍVEL CULTURAL, O FATOR HUMANO, INEVITAVELMENTE, PERPASSA POR EXPERIÊNCIAS SUBJETIVAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS QUE NOS DIFERE DAS OUTRAS ESPÉCIES DE ANIMAIS. O QUE NOS DÁ A CAPACIDADE DE EDIFICAR DE FORMA BASTANTE COMPLEXA AS ESTRUTURAS DE CONVIVÊNCIAS DESSES TAIS ESPAÇOS TRANSFORMADOS EM LUGARES: AS CIDADES. DESSE MODO, AO PENSAR OS CAMINHOS E POSSIBILIDADES DE LEITURA ENTRE CIDADE E LITERATURA, JÁ TÃO EXPLORADOS POR DIFERENTES UNIVERSOS POÉTICOS, ESTE TRABALHO BUSCA ANALISAR, A PARTIR DO ROMANCE OS RIOS TURVOS [1993] DE LUZILÁ GONÇALVES, AS TRADIÇÕES URBANÍSTICAS NATIVAS DA PAISAGEM PERNAMBUCANA QUE DERAM FORMA E LUGAR AS ATUAIS CIDADES E SEUS ESPAÇOS GEOGRÁFICOS NÃO APENAS FÍSICOS, MAS TAMBÉM AFETIVOS ATÉ HOJE. NARRADA EM TERCEIRA PESSOA, ESTA OBRA, DE LUZILÁ, CAMINHA NAS TRILHAS DO ROMANCE HISTÓRICO AO PROPOR UMA ESPÉCIE DE RECONSTRUÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DO FINAL DO SÉCULO XVI, TENDO COMO BASE CENTRAL A BIOGRAFIA ROMANCEADA DE BENTO TEIXEIRA, CRISTÃO-NOVO, E FILIPA RAPOSA, CRISTÃ-VELHA, NOS TEMPOS DA MÃO PESADA INQUISITÓRIA DA IGREJA. PARA ALÉM DOS CONFLITOS NARRADOS AO LONGO DA OBRA E DAS INÚMERAS INTERTEXTUALIDADES TANTO COM A PRÓPRIA PROSOPOPÉIA [1601] DE BENTO TEIXEIRA QUANTO COM CLÁSSICOS DA LITERATURA, COMO POR EXEMPLO, OVÍDIO, CAMÕES, O ROMANCE TAMBÉM APRESENTA UMA AMPLA MAPEAÇÃO DO CARÁTER ESTRUTURAL DA FORMAÇÃO SOCIAL BRASILEIRA DOS PRIMEIROS SÉCULOS DEPOIS DAS INVASÕES. COM ISSO, A OBRA TRAZ ILUSTRAÇÕES QUE AMPLIAM A VISÃO GEOGRÁFICA FÍSICA E POLÍTICA DE QUALQUER LEITOR, SEJA PELAS DESCRIÇÕES DA PAISAGEM LOCAL, SEJA PELOS COSTUMES E ORGANIZAÇÃO DOS GRUPOS E COMUNIDADES DE HABITANTES DAQUELA ÉPOCA. TORNANDO-SE, ASSIM, UMA OBRA DE SUMA IMPORTÂNCIA PARA SE COMPREENDER A GÊNESE DAS RELAÇÕES FUNDADORAS DAS CIDADES NO IMAGINÁRIO COLETIVO QUE SE FAZEM PRESENTES ATÉ OS DIAS ATUAIS. POR ISSO, FAZ-SE NECESSÁRIO COMPREENDER A RECONSTRUÇÃO DESCRITIVA DE TAIS ESPAÇOS CAPTADA, PELA MEMÓRIA COLETIVA DO IMAGINÁRIO SIMBÓLICO, LOCALIZADOS NA ESTRUTURA NARRATIVA DO ROMANCE EM QUESTÃO; BEM COMO, OBSERVAR AS PARTICULARIDADES DO PROCESSO EDIFICANTE DAS FORÇAS CIVILIZADORAS DAS CIDADES E SUAS RELAÇÕES SOCIOCULTURAIS PRIMEIRAS. PARA UMA MELHOR DINAMICIDADE DE ANÁLISE DO CORPUS, O TRABALHO ESTÁ ESQUEMATIZADO EM QUATRO EIXOS PRINCIPAIS DE DISCUSSÃO: A MEMÓRIA AFETIVA DOS ESPAÇOS; A RECONSTRUÇÃO DESCRITIVA DAS PAISAGENS LOCAIS; A RELAÇÃO DO ESPAÇOS COM A FORMAÇÃO CRISTALIZADA DO CARÁTER SOCIAL E O ESPAÇO DA CIDADE COMO AMBIENTE PARA O HÁBITO DA CRIAÇÃO LITERÁRIA. TAIS DISCUSSÕES CONVERGEM PARA A APREENSÃO DA LITERATURA COMO MAPEAMENTO COGNITIVO DE PROCESSOS SÓCIO ESPACIAIS, QUE ELEVAM A TEMÁTICA DA CIDADE PARA CONTEXTOS QUE ULTRAPASSAM OS LIMITES CONCRETOS DE SEU CONCEITO. DA ANÁLISE DO CORPUS SERÁ APRESENTADO O PANORAMA HISTÓRICO E IMAGINÁRIO DA MOVIMENTAÇÃO DIASPÓRICA PRESENTES NO PRIMEIRO MOMENTO DO BRASIL, MAIS ESPECIFICAMENTE DA CAPITANIA DE PERNAMBUCO E ARREDORES, QUE CONSTITUI O CARÁTER “DESENVOLVIMENTISTA” DA IDEIA DE CIDADE E SUAS AFINIDADES ECONÔMICAS. NO TRAJETO PERCORRIDO POR QUATRO VILAS – VIVENCIADAS E REMEMORADAS PELAS PERSONAGENS PRINCIPAIS – OLINDA, IGARASSU, ITAMARACÁ E CABO DE SANTO AGOSTINHO FUNCIONAM COMO PANO DE FUNDO QUE ABORDAM PROFUNDAS REFLEXÕES ACERCA DAS DIMENSÕES DE DOMINAÇÃO E EXPANSÃO TERRITORIAIS DO PERÍODO DA COLONIZAÇÃO NA AMÉRICA LATINA MARCADO POR INÚMERAS VIOLÊNCIAS, SIMBÓLICAS OU FÍSICAS. DE MODO GERAL, ESTA PESQUISA COMPREENDE, NAS ENTRELINHAS DA NARRATIVA, A RECONSTRUÇÃO DESCRITIVA DA DIMENSÃO DOS ESPAÇOS NO ROMANCE EM QUESTÃO, PELO VEIO DA IMAGINAÇÃO, PELO CARÁTER FIGURATIVO DA RECRIAÇÃO PRESENTES NO UNIVERSO FICCIONAL LITERÁRIO; BEM COMO, OBSERVA NAS CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO EDIFICANTE DAS FORÇAS CIVILIZADORAS DAS PRIMEIRAS FORMAS DE CIDADES NO BRASIL ASPECTOS IDEOLÓGICOS MARCADOS POR TENSÕES DA VIDA COTIDIANA E SINGULARIDADES DOS HABITANTES DAQUELA ÉPOCA. NESSA PERSPECTIVA, TOMA-SE COMO APORTE TEÓRICO, PARA TAIS DISCUSSÕES, AUTORES DE DIFERENTES ÁREAS E PENSAMENTOS CRÍTICOS, AFIM DE POSSIBILITAR UMA MAIOR PROFICIÊNCIA DA ANÁLISE DO CORPUS. NO QUE TANGE AOS PRESSUPOSTOS LIGADOS À IDEIA DE ESPAÇO E LUGAR, APURA-SE REFLEXÕES QUE VÃO DESDE O PENSAMENTO DO FILÓSOFO GASTON BACHELARD (1978) SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE POESIA E ARTE COM O ESPAÇO E TODA A TENSÃO POR ELE TRABALHADA ACERCA DAS QUESTÕES FENOMENOLÓGICAS EM SEU LIVRO A POÉTICA DOS ESPAÇOS ATÉ OS APONTAMENTOS DE YI-FU TUAN (1983) SOBRE SUAS CONCEPÇÕES CONCEITUAIS DE ESPAÇO E LUGAR, QUE PERMITEM EXPLANAR A COMPLEXA RELAÇÃO QUE DIVIDE A LINHA TÊNUE ENTRE TAIS CONCEITOS. NO QUE SE REFERE AOS ESTUDOS SOBRE CIDADE, DESTACA-SE DISCUSSÕES QUE SE ESTENDEM DESDE A FORMAÇÃO DAS NOVAS SOCIEDADES AMERICANAS, A PARTIR DO SÉCULO XVI COM AUTORES COMO JOSÉ LUIS ROMERO (2009), QUE APONTA TRAÇOS DECISIVOS DO PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA, ATÉ OS QUESTIONAMENTOS ACERCA DO “QUE É A CIDADE?” DE RAQUEL ROLNIK (1995) DIANTE DA IMPORTÂNCIA DE SE PENSAR A CIDADE POR UM VIÉS DINÂMICO DE RECONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO HISTÓRICO SOCIAL, DE DETERMINADOS ESPAÇOS, A PARTIR DA ESCRITA LITERÁRIA NAS CIDADES-ESCRITAS; BEM COMO LEITURAS QUE ENDOSSARAM ESTA PESQUISA TOCANTE ÀS RELAÇÕES INTERPRETATIVAS DO BRASIL NO PERÍODO DA COLONIZAÇÃO, COMO POR EXEMPLO, CASA GRANDE E SENZALA DE GILBERTO FREYRE (2000) OU ALGUMAS CRÔNICAS SELECIONADAS EM A PAISAGEM PERNAMBUCANA [1993] ORGANIZADAS POR MÁRIO SOUTO MAIOR E LEONARDO DANTAS SILVA. LUKÁCS (2011), NO QUE CONCERNE AO ROMANCE HISTÓRICO, ATÉ DISCUSSÕES QUE PERPASSAM PELA HISTÓRIA DA LITERÁRIA BRASILEIRA COM ALFREDO BOSI (1986), AFRÂNIO COUTINHO (2004), ANTONIO CANDIDO (2000). ASSIM, SERÁ POSSÍVEL ESTABELECER A CONFLUÊNCIA DE LEITURAS FRENTE ÀS RELAÇÕES ENTRE LITERATURA, CIDADE E SOCIEDADE. PORTANTO, POR MEIO DO ENTENDIMENTO DA CIDADE COMO SÍMBOLO DE UMA NOVA ORDEM SOCIAL, AINDA QUE EM FORMAÇÃO, PODEMOS COMPREENDER MELHOR AS RELAÇÕES DE PODER E EDIFICAÇÃO DAS ESTRUTURAS SOCIAIS QUE BALIZARAM E BALIZAM O IMAGINÁRIO DA MOVIMENTAÇÃO COLETIVA ATÉ OS DIAS ATUAIS.