UMA EXISTÊNCIA ESTRANHA E FACEIRA ANIMA ESSA PESQUISA. PODEMOS DESCREVÊ-LA, RAPIDAMENTE, COMO UMA PESSOA INTERSEXO, CUJA HISTÓRIA SE PASSOU NO SÉCULO XIX. CONTUDO, MENOS IMPORTANTE QUE SUA CONDIÇÃO INTERSEXUAL, É O FATO DE HERCULINE BARBIN TER OUSADO VIVER E RELATAR A SI MESMA COMO UMA ESTRANGEIRA DO GÊNERO. NA AUTOBIOGRAFIA DE HERCULINE, INTITULADA MINHAS MEMÓRIAS, ENCONTRAMOS UMA FIGURA ININTELIGÍVEL NA LINGUAGEM MAIOR DO PODER, QUE TENSIONA, DESDE DENTRO, A CODIFICAÇÃO BINÁRIA DO SISTEMA SEXO/GÊNERO. HERCULINE TENDE A DESESTABILIZAR AS FRONTEIRAS ESTÁVEIS ENTRE O MASCULINO E O FEMININO, SEGUINDO LINHAS DE DESERÇÃO E NOMADISMO. SÃO ESSAS LINHAS ESTRANHAS, MENORES E FUGAZES, QUE TRESPASSAM A ESCRITA DE SI DE HERCULINE, O OBJETO DESSA INVESTIGAÇÃO. COMPARTILHANDO A INTUIÇÃO DE GILLES DELEUZE E FÉLIX GUATTARI QUANTO AOS ASPECTOS DE UMA LITERATURA MENOR, ANALISAMOS A NARRATIVA MINHAS MEMÓRIAS BUSCANDO POR SEU POTENCIAL POLÍTICO, COLETIVO E REVOLUCIONÁRIO.