COSTA, Jhonatan Leal Da. Isolamento predestinado: a descoberta da solidão gay. Anais X CONAGES... Campina Grande: Realize Editora, 2014. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/5713>. Acesso em: 23/12/2024 14:54
Consenso entre sociólogos como Zygmunt Bauman (2008) e Alberto Oliva (2000), o isolamento social e o estado de desamparo surgem como um dos males mais opressores e aterrorizantes dos sujeitos da contemporaneidade. Não obstante, todos somos obrigados a experimentar sensações de abandono pontuadas ao longo de toda a existência. Não estamos imunes às despedidas, aos términos de relacionamentos, nem às perdas de entes queridos. Quando se trata de sujeitos homoafetivos, as qualidades de ser ou estar sozinho podem ser potencializadas pelo simples fato de eles serem quem são: transgressores das normas sexuais definidas como modelo pela hegemonia social. É o que verifica Françoise Dolto (1998, p. 244), que, em estudo sobre a solidão do gênero humano, afirma ter encontrado nos homoafetivos as pessoas mais solitárias. Nesse viés, os gays possuiriam maior predisposição a padecer das sensações de desamparo em prol dos considerados heterossexuais. Fator frequentemente ilustrado nas obras literárias de temática gay, a exemplo das que serão contempladas nesse estudo: o romance Mosaicos Azuis Desejos, de Antonio de Pádua (2011) e o conto “Terça-feira gorda”, de Caio Fernando Abreu (1982). Observar as estratégias utilizadas por esses escritores na construção de suas narrativas pode conduzir ao exame dos aspectos que possam apontar para uma suposição de que os homoafetivos representados estão condenados a sofrerem de solidão, fadados ao abandono, como propôs Dolto ao categorizar os homoafetivos como sendo as pessoas mais solitárias. A ideia é que, se forem constatados vínculos entre a condição de sujeito gay e a solidão nos homoafetivos representados nos dois textos, poder-se-á falar em solidão gay, caracterizada pela injunção ao isolamento físico e/ou psíquico dos identificados pela orientação sexual homo.