A proposta desse trabalho é discutir as narrativas sobre a vida de Benedetta Carlini de Vellano, abadessa do Convento da Mãe de Deus, na cidade de Pescia – Itália, no século XVII, tomando como referência a obra “Atos Impuros- a vida de uma freira lésbica na Itália da Renascença” (1987) escrita pela autora Judith Brown, a partir de um inventário de documentos encontrados no Arquivo do Estado de Florença. Analisaremos os papeis de gênero compartilhados na sociedade em que viveu Benedetta e como as práticas realizadas por esta transgrediram alguns códigos culturais. Uma vez sendo freira, através das visões místicas que tivera, Benedetta dizia-se noiva de Jesus e que incorporava um anjo nas ocasiões em que mantinha relações afetivo-sexuais com sua acompanhante, a freira Bartolomea Crivelli. Assim, problematizaremos as representações da sexualidade narradas por Judith Brown sobre as experiências de Benedetta e Bartolomea que, dizendo-se a “serviço” de Deus, não se furtavam à realização dos seus desejos. Quebrando os votos de castidade, mas também ocupando espaços e posições de poder dentro do Convento, a narrativa nos possibilita problematizar a fixidez muitas vezes associada aos papeis de gênero, como também sugere estradas diferentes e múltiplas para a discussão sobre a efetivação do desejo/amor entre mulheres.
PALAVRAS-CHAVE: História. Gênero. Lésbica.