Um dos elos fundamentais nas literaturas de autoria feminina são as narrativas que envolve a genealogias femininas na figura da avó, em geral, da avó materna. Se verificarmos a simbologia da avó no imaginário literário, do mais antigo ao mais contemporâneo, a figura da avó nos remete à figura da anciã, da velha senhora, que quase sempre é uma figura positiva. No Dicionário de Símbolos de Gheerbrant e Chevalier, o significado da anciã nos remete à idéia da sabedoria e confiança que seriam características da velhice e da maturidade. A figura feminina da avó na literatura de autoria feminina tem, também, sua identificação com o imaginário literário de todos os tempos e com o arquétipo da anciã. É mulher mais velha, protetora, muitas vezes seu nome será também o nome de sua filha e de sua neta, e sua função no relato, frequentemente, é o de transmitir um conhecimento importante relativo à tradição da experiência feminina. A presença da figura da avó pode dar-se através da memória da filha ou da neta ou através de uma herança que pode aparecer nas cartas guardadas ou escondidas como também em diários íntimos. Este artigo pretende analisar a imagem arquetípica da avó como símbolo do grande Feminino na narrativa de autoria feminina, em nosso caso, A Casa dos Espíritos, da escritora chilena Isabel Allende. Para tanto, fundamentamos nosso trabalho nos pressupostos teóricos de Chevalier e Gheerbrant (2002), Ciplijauskaité (1994), Jung (2002) e Neumann (1996). A análise nos mostra que a figura da avó na narrativa estudada, quase sempre tem um caráter positivo e se constituem enquanto modelo identitário, como afirmativa e gratificante em sua relação com a jovem neta, facilitando, desta maneira, uma mediação possível e prazerosa entre a complexa relação entre mãe e filha.