Áreas florestais perturbadas regeneram-se devido à germinação das sementes de origem alóctone e/ou autóctone e propagação vegetativa. As perturbações, dependendo da frequência e intensidade, permitem a regeneração da área em tempos distintos, visto que os fatores influentes nesse processo podem ser intensificados ou retardados, como: a resiliência das espécies, condições de rebrota dos indivíduos e/ou viabilidade do banco de sementes (RICKLEFS, 2010). Há ainda a imigração de espécies que poderão se comportar como exóticas/invasoras, influenciando o desenvolvimento local. Dados estes fatores, inicia-se o processo de regeneração natural que lentamente reestrutura e diversifica a floresta com passar do tempo. As espécies pioneiras mudam gradualmente o ambiente, permitindo que outras, mais complexas, se instalem e levem a floresta regenerante às características próximas de uma floresta madura (ANTONINI & FREITAS, 2004; GUREVITH et al, 2009). Este trabalho buscou acompanhar as mudanças na demografia populacional de C. trichotoma durante 10 anos, em uma floresta antropogênica no semiárido brasileiro. Foram realizados três inventários: em 2008 (LOPES et al. 2011); 2013 (ANDRADE, 2017); e 2018 (este trabalho). Os trabalhos foram realizados em um fragmento de 3 ha de floresta tropical sazonalmente seca (caatinga), que sofreu corte raso para plantio de Opuntia fícus-indica (L.) Mill (palma gigante), sem uso de fogo ou agrotóxico (LOPES et al, 2012). Atualmente o fragmento está com 23 anos de regeneração natural e encontra-se separado de uma floresta madura, por uma estrada de barro com aproximadamente 3 m. Na floresta madura, não existe registro de corte raso há pelo menos seis décadas (ALCOFORADO-FILHO, 2003). Os três inventários foram feitos no mesmo local, com 100 parcelas de 50 m² (5 m x 10 m) organizadas em cinco transectos de vinte parcelas, separados um do outro por um corredor de 3 m. Para caracterizar a estrutura da população, mediu-se as alturas, diâmetros ao nível do solo (DNS) ≥ 3 cm dos indivíduos e a abundância total e a densidade média. Calculou-se ainda a frequência de altura dentro de intervalos de classes a partir da fórmula de Spiegel e regra de Sturges (FELFILI e REZENDE, 2003 apud FONTENELE, 2014). O efeito do tempo sobre os atributos densidade, altura e diâmetro da população foi verificado usando o GLM (Modelo Linear Generalizado), com teste a posteriori de Tukey. Os resultados mostraram uma abundância de 256 indivíduos em 2008, 234 em 2013 e 285 em 2018. A densidade média foi semelhante ao longo do tempo, com 2,56 ind/50m2, 2,34 ind/50m2 e 2,85 ind/50m2 em 2008, 2013 e 2018, respectivamente. A altura média dos indivíduos foi 2,6 m em 2008 e aumentou significativamente (F(4,166)=6.7667, p=0.00005) para 3,4 m e 3,3 m nos anos seguintes. A população foi separada em nove classes de altura. Em 2008 e 2013 a proporção de indivíduos entre 2,8 e 5,1 m foi de aproximadamente 65%. Em 2018 essa proporção caiu para cerca de 50%. Apenas em 2008 e 2013, cerca de 2% da população foi representada por indivíduos com mais de 6 m. O DNS médio foi 3,8 cm em 2008, 4,1 cm em 2013 e aumentou significativamente para 4,9 cm em 2018 (F(4, 166)=6.7667, p=0.011484). Em conclusão, embora não tenha havido diferença significativa na densidade média ao longo do tempo, houve um leve aumento na abundância de indivíduos. A maior parte da população é formada por indivíduos jovens e houve um investimento significativo na ocupação do espaço horizontal e vertical. Diante do exposto, a população C. trichotoma vem regenerando lentamente e os indivíduos estão investindo em crescimento, o que pode aumentar as chances de se tornarem mais competitivos por espaço e recurso, garantindo a estabilidade da população.