No início da década de 90, o cenário cultural de Recife - PE recebeu o movimento que misturava regionalidades com elementos e ritmos da cultura pop global. Assim, é da junção do maracatu com o rock n’ roll que nasce o Manguebeat. O movimento surge com a música mas se torna cultural por extensão, pois sua forma de protesto político de contraste também era visual, com roupas e acessórios que uniam duas realidades aparentemente distantes. A música é sempre historicamente situada e socialmente condicionada, associada às diferentes fontes extra musicais que são a ocasião e o fundamento. (SUPICIC, 1957, p.19).
O presente trabalho tem por finalidade realizar uma análise político-sociológica a respeito do movimento cultural Manguebeat, suas influências e impressões deixadas ao longo dos anos nas regiões nordestinas. O movimento retoma uma ideia de quebra e reconstrução ideológica já utilizada, mas o faz exclusivamente voltado para a população nordestina. Aliás essa liberdade de incorporação e de modificação dos gêneros de música é talvez um traço típico da cultura popular do Nordeste. É impossível pensar em uma uniformização ou em uma categorização musical quando analisamos os grupos que o compõem. (TESSER, 2007, p. 76). Estudaremos a hibridização como construtor identitário.
A metodologia adotada para o presente trabalho é de cunho bibliográfico, visto que pesquisa nenhuma parte hoje da estaca zero. A citação das principais conclusões a que outros autores chegaram permite salientar a contribuição da pesquisa realizada, demonstrar contradições ou reafirmar comportamentos e atitudes. Tanto a confirmação, em dada comunidade, de resultados obtidos em outra sociedade quanto a enumeração das discrepâncias são de grande importância. (MARCONI; LAKATOS; 2012, p. 114-115). O levantamento da bibliografia já existente sobre o Manguebeat e as relacionadas com a linha de raciocínio a ser estabelecida no decorrer do trabalho contribuirão para o estudo proposto. A pesquisa com sondagem de conteúdo envolve análise das mensagens, dos enunciados dos discursos e da busca do significado dessas mensagens, as linguagens, a expressão verbal, os enunciados, são vistos como indicadores significativos, indispensáveis para a compreensão dos problemas ligados às práticas humanas e a seus componentes psicossociais. (SEVERINO, 2007).
A partir das questões aqui levantadas, pesquisadas e respondidas, será realizada uma reflexão referente à temática abordada e o referencial teórico consultado, estabelecendo relações entre ambos, sejam elas concordantes ou divergentes. O manguebeat veio como a versão prática dos estudos sobre a hibridização cultural, que, se caracterizaria de tal forma quando processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas (CANCLINI, 2011; p. 19). Ou seja, o Manguebeat pode ser considerado como um experimento artístico que deu certo, tão certo que fundou o principal movimento cultural da década de 90, tendo como seu mais ilustre representante o grupo Nação Zumbi, capitaneado por Chico Science, que fez dessa, uma união inicialmente dionisíaca aos ouvidos mas, que se torna apolínea conforme os produtos culturais vão sendo absorvidos. Foi a mistura cultural improvável que marcou o final do século passado.
A partir das reflexões feitas aqui a respeito da importância do movimento em questão para o Brasil, país de miscigenação e multiculturalidade, espera-se que seja possível perceber o contexto político em que surgiu o movimento e o significado do hibridismo que foi utilizado por eles também como forma de denúncia e protesto. O Manguebeat articulou a conjuntura das manifestações culturais recifenses e décadas depois ainda a influencia. O movimento colocou em xeque as redes de informação massificadas e atribuiu um sentido público à mídia ao apontá-la como um meio estratégico para a transformação social. (GAMEIRO, 2008, p. 11).